Secretário de Defesa dos EUA visita Brasília com negócios na agenda
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, James Mattis, se reuniu nesta segunda-feira com o ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes, e de Defesa, general Joaquim Silva e Luna, em Brasília, com quem discutiu temas relacionados aos direitos humanos e o papel dos dois países em missões de paz.
Em nota, o Pentágono afirmou que Mattis e Nunes discutiram um "amplo leque de assuntos de defesa". Detalhes do encontro com Silva e Luna ainda não foram divulgados, mas fontes da delegação americana disseram que a expectativa era dar prosseguimento a assuntos discutidos entre o presidente Michel Temer e o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, durante visita ao Brasil em junho.
Na reunião, Temer e Pence discutiram a situação na Venezuela e o possível uso por parte dos americanos da base de lançamentos espaciais que o Brasil tem em Alcântara, no Maranhão.
As reuniões marcaram o início da viagem de Mattis na América do Sul. Nos próximos dias, o secretário de Defesa se reunirá com representantes dos governos de Argentina, Chile e Colômbia.
A próxima parada da visita será no Rio de Janeiro, onde Mattis deve fazer um discurso para os cadetes da Escola Militar de Guerra e visitar o Monumento Nacional aos Mortos na Segunda Guerra Mundial.
Nos próximos dias, com o objetivo de fortalecer a relação dos EUA com os países da região, Mattis visitará Buenos Aires, Santiago e Bogotá. O secretário volta para Washington na sexta-feira.
O que secretário de Defesa dos EUA quer do Brasil?
Para além de debater assuntos de interesse bilateral e regional, qual será o motivo desse interesse súbito do chefe do Pentágono pelo Brasil, um mês e meio depois da visita do vice-presidente Mike Pence ao país?
"O secretário de Defesa James N. Mattis se encontrou com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, em 13 de agosto, no Palácio do Itamaraty, para reafirmar a longa relação bilateral entre os Estados Unidos e o Brasil", disse a porta-voz do Pentágono, Dana W. White, em uma das poucas declarações sobre os encontros de Mattis em Brasília.
Na agenda oficial de Mattis, estavam a discussão de alternativas para avançar na cooperação nas áreas técnica, científica, político-militar e de indústria de defesa, como no caso do uso, pelos EUA, da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão. Mas, para alguns especialistas, pode haver algo além.
De acordo com o professor de Relações Internacionais Thomas Ferdinand Heye, da Universidade Federal Fluminense (UFF), enquanto há, nos EUA, aqueles que acenam para a América Latina com a ideia de construir um muro ou de impor sobretaxações nas commodities, há também aqueles atores que desejam reforçar os laços de Washington com os países da região, em busca de alianças, apoio ou de manter a tradição de "quintal norte-americano".
Para o especialista, há, hoje, um interesse claro de parte desses atores em marcar presença no Brasil e nos demais países sul-americanos para fazer frente principalmente à influência da China.
"A China está muito presente para alguns países da região. A gente não pode esquecer que, por exemplo, o relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento mostra que a China investiu em uma década em infraestrutura mais do que os Estados Unidos em meio século", destacou Heye. "Então, a China está chegando muito forte na América Latina no momento, nos últimos anos. E isso é uma coisa nova na região".
Segundo o professor, antes, os Estados Unidos costumavam ser o grande parceiro comercial e político da maioria dos países da região, mas com um distanciamento relativo desde o fim da Guerra Fria. Agora, ele vê o fortalecimento de uma pauta mais interessante, inclusive no caso do Brasil, com a discussão da venda da Embraer, da necessidade de o país ter acesso a insumos para a sua indústria bélica e a tecnologias controladas pelos EUA.
"Então, estariam também coisas interessantes do nosso lado a propor."
Sobre a Venezuela, Heye não vê a atual crise do país como um dos motivos impulsionadores para a visita do secretário de Defesa dos EUA ao Brasil e a outros Estados sul-americanos, já que, para ele, a opção militar dos EUA contra Caracas teria caráter unilateral, dispensando o apoio de vizinhos.
"Os Estados Unidos não precisam do Grupo de Lima ou de qualquer conjunto de países se eles quiserem tomar uma decisão unilateral. Agora, não vão fazer isso porque tem um custo político absurdo para os americanos."