ONU denuncia mortes de indígenas no Brasil e pede medidas
A relatora das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, condenou hoje os recentes ataques à comunidade guarani-kaiowá no Brasil e pediu medidas urgentes das autoridades brasileiras.
A especialista instou as autoridades brasileiras a adotar medidas urgentes para prevenir mais assassinatos e investigar os acontecimentos para poder levar os responsáveis à justiça.
No passado dia 14, paramilitares armados alegadamente contratados por um grupo de fazendeiros mataram Clodiodi de Souza, membro da etnia guarani-kaiowá, de 23 anos, com um tiro na cabeça. Outros seis índios ficaram feridos, entre eles um rapaz de 12 anos.
Os atacantes proferiram insultos racistas e queimaram pertences de um grupo de guaranis que tinha ocupado uma fazenda em Caarapó, no Estado do Mato Grosso do Sul.
A fazenda encontra-se em terras ancestrais que foram recentemente reclamadas pela comunidade guarani-kaiowá.
"Esta foi uma morta anunciada. O Estado do Mato Grosso do Sul é o mais violento do Brasil, com o número mais elevado de índios mortos", salientou a relatora, num comunicado.
A relatora tinha visitado a comunidade em março passado e já na altura alertou para a situação de tensão.
"Lamento que, apesar dos meus alertas anteriores, as autoridades federais e estatais tenham falhado em adotar medidas rápidas para prevenir a violência contra os povos indígenas", denunciou Tauli-Corpuz.
"Estes erros são mais graves tendo em conta os fortes receios expressos pela comunidade de sofrer novos ataques", acrescentou.
Face a esta situação, a relatora pediu que os procedimentos de demarcação sejam agilizados de forma prioritária, para que se esclareça a titularidade das terras indígenas e se previna a escalada de violência.
"O facto de os direitos dos povos indígenas serem subordinados ao interesse económico cria um risco potencial de efeitos etnocidas que não se pode ignorar nem subestimar", alertou Tauli-Corpuz.
A propriedade ocupada pelos índios, que a reivindicam como terra dos seus antepassados, está próxima da reserva Dourados-Amambai Peguá e o Governo declarou o local como território indígena, mas ainda não o delimitou.
Desde 2003, foram registados cerca de 400 homicídios de índios guaranis nos conflitos de terras no Mato Grosso do Sul, de acordo com dados dos próprios indígenas.
A comunidade guarani-kaiowá, composta por perto de 50 mil pessoas, é uma das que mais sofre com a violência provocada pela disputa de terras no Brasil.