Trump vai ter dificuldades em "rasgar" acordo nuclear iraniano
O candidato Donald Trump prometeu rasgar o acordo sobre o nuclear iraniano, mas o agora Presidente eleito terá dificuldades em manter a palavra, sob pena de isolar os EUA face aos restantes signatários deste acordo multilateral.
Assinado em Viena a 14 de julho de 2015 e em vigor desde 16 de janeiro, o acordo histórico sobre o nuclear iraniano é o resultado de 18 meses de negociações entre 2012 e 2015 entre Irã e países ocidentais, incluindo os EUA.
Este pacto multilateral, menina dos olhos do ainda presidente norte-americano, Barack Obama, visa garantir a natureza pacífica do programa nuclear iraniano em troca de um levantamento progressivo das sanções económicas aplicadas ao país.
Toda a comunidade internacional, incluindo os mais ferozes adversários de Teerã, como Israel ou a Arábia Saudita, reconhecem que o Irã tem até agora respeitado os termos do acordo de Viena.
Até abandonar a Casa Branca, a 20 de janeiro de 2017, Obama espera que o acordo sobre o nuclear permita também aproximar os Estados Unidos da América e o Irã, que não têm relações diplomáticas desde 1980.
A administração democrata cessante queria também restabelecer uma forma de equilíbrio geopolítico no Golfo Persico e no Médio Oriente entre a potência iraniana e a Arábia Saudita, a sua rival convicta.
Mas esta estratégia de Obama, vista como demasiado favorável a Teerã, não agrada a Riad, aliado histórico de Washington, e provocou a ira do Congresso norte-americano, nas mãos dos republicanos, que fizeram tudo para bloquear o acordo. Em campanha desde o verão de 2015, Donald Trump atacou desde cedo o acordo de Viena, que considerou "o pior acordo jamais negociado" e considerou poder desencadear "um holocausto nuclear".
Em março, perante o grupo de pressão judaico-americano Aipac, o candidato republicano afirmou que a sua "prioridade número um" seria "desmantelar o acordo desastroso com o Irã. Uma catástrofe para Israel e para o Médio Oriente". Prometeu mesmo "rasgar" o texto quando chegasse à Casa Branca.
Os nomes que circulam para ocupar o cargo de secretário de Estado - Newt Gingrich, antigo líder dos republicanos na Câmara dos Representantes, John Bolton, ex-embaixador na ONU, e Bob Corker, presidente da comissão dos Negócios Estrangeiros do Senado- são vistos como contrários ao acordo com o Irã.
No entanto, confrontado com a realidade do poder, a administração Trump poderá ter de diluir as suas intenções. Interrogado pela Imprensa, o conselheiro de política externa de Trump, Walid Phares, foi menos categórico do que o seu Presidente eleito: "rasgar é talvez uma palavra demasiado forte (...). Ele vai pegar no acordo, vai reexaminá-lo, enviá-lo ao Congresso, exigir aos Iranianos que mudem alguns pontos e haverá uma discussão".
Com efeito, será complicado para Trump sair ou renegociar o texto, descrevem alguns analistas politicas. "Os Estados Unidos não podem anular ou emendar o acordo de forma unilateral sem violar o direito internacional", disse um especialista, para quem "qualquer tentativa de eliminar diretamente o acordo -ou mesmo de o renegociar - isolaria os Estados Unidos, e não o Irã".