Uma Revolução que mudou para sempre a direção do Irã
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Fev. 10, 2018 07:17 UTC
  • Uma Revolução que mudou para sempre a direção do Irã

Pars Today- Onze de fevereiro de 1979 marca um dia importante na história contemporânea do mundo. Nessa data, a cena internacional conheceu um modelo de sistema político diferente dos que existiam até aquele dia, ou seja, um sistema soberano, que não tinha dependência aos dois blocos principais da época: os Blocos de Oeste e Leste.

Por: Rasoul Godarzi

Neste artigo, pretendemos estudar as circunstâncias em que a Revolução Islâmica do Irã surgiu internamente e externamente, além de analisar os benefícios desse evento importante para os iranianos.

A situação dentro do Irã

A Revolução Islâmica de 1979 teve suas raízes na Revolução Constitucional que começou em 1905 e resultou no estabelecimento do Parlamento no Irã. Depois disso, no ano de 1951, se intensificaram as mobilizações sociopolíticas na nação iraniana. Os cidadãos sedentos de liberdade conseguiram estabelecer o seu primeiro governo eleito de maneira democrática. Como líder, colocaram o primeiro-ministro Mohamad Mosadeq, que nacionalizou a indústria petrolífera do país. Graças às suas políticas, o ouro preto, que estava sob o controle de uma empresa britânica conhecida hoje como British Petroleum, retornou as mãos de seus verdadeiros proprietários, o povo iraniano.

No entanto, em agosto de 1953, esse povo viu enterrado o seu sonho; a Inteligência britânica, MI6 e a CIA dos EUA orquestraram um golpe militar contra o governo popular de Mosadeq. Desta forma, foi reintegrado o poder absoluto do Xá Mohamad Reza Pahlavi.

Nos difíceis anos sessenta, os iranianos sofreram com uma monarquia absoluta e, na sociedade se agravaram as feridas aberta: a lacuna econômica, a desigualdade social e a falta de liberdades políticas. Tudo isso junto com o temido "SAVAK" (Organização de Inteligência e Segurança Nacional), que asfixiava e reprimiu qualquer voz da oposição.

Nestas circunstâncias, o aiatolá Seyed Ruhollá Khomeini (que descansa em paz) se apresentou como uma conhecida figura da oposição, que buscava sensibilizar as pessoas sobre a realidade política do país sob a monarquia absoluta do Rei Pahlavi. É por isso que o então sistema de Inteligência o detém para tentar acalmar a situação. No entanto, esta medida teve o efeito oposto, a sua prisão motivou uma revolta popular em todo o país. O Exército recorreu a todos os tipos de medidas para abafar os protestos, desde declarar o toque de recolher para reprimir as manifestações com fogo real.

Quando o regime monárquico se toma conhecimento da ineficácia de suas medidas, decide libertar o aiatolá Khomeini, embora pouco depois volte a detê-lo e exilar para a Turquia. O líder revolucionário decide ir para o Iraque e depois para a França.

Durante seu período de exílio, todo o Irã estava agitado. Os protestos continuaram e as medidas do Xá, como a Lei Marcial, não conseguiram controlar o povo furioso. As pessoas estavam decididas a pôr fim à dependência do seu país aos Estados Unidos e ao Reino Unido, ao mesmo tempo em que defendiam o seu próprio futuro e a gestão de recursos do país sem interferências estrangeiras.

Em 1979, o aiatolá Khomeini voltou ao país onde exerceu sua liderança e, com seus discursos, motivou o povo a dar o último golpe ao regime monárquico. Foi então que, no dia 11 de fevereiro daquele ano, o Irã se vê o seu sonho se tornar a realidade: o ditador caiu, a vontade do povo triunfou e nasceu uma Revolução que mudou as equações regionais e internacionais.

A cena internacional

Desde o final da Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria, as nações do mundo viviam em um sistema bipolar entre o Bloco da Leste cuja liderança pertencia à União Soviética e o Bloco do Oeste liderado pelos Estados Unidos. Todos os países do mundo tiveram que escolher entre um desses dois blocos, já que não havia outra opção. Dois modelos muito diferentes baseados no comunismo ou no liberalismo.

Foi nessas circunstâncias que nasceu a Revolução Islâmica no Irã. Este fato de grande importância teve efeitos importantes a nível regional e internacional. No Oriente Médio, a mudança do sistema no Irã foi interpretada como uma debilidade do regime israelense, um importante aliado do rei Pahlavi e um grande obstáculo para os planos hegemônicos de Washington e seus aliados ocidentais na região. A este respeito, o ex-secretário do Tesouro dos EUA, George Pratt Shultz, declarou: "A Revolução Islâmica no Irã é o pior inimigo comum do Ocidente em toda a história". Da mesma forma, em seu livro "Victoria Sem Guerra", o ex-presidente dos EUA, Richard Nixon, escreveu: "Para nós, o Islã de Khomeini é muito mais perigoso do que a União Soviética. A mudança começou na forma de um furacão e não conseguimos detê-lo”.

Ao nível internacional, a Revolução Islâmica no Irã foi um grande desafio ao modelo de hegemonia e arrogância global. O país persa enviou uma mensagem clara aos países submissos; a possibilidade de ser independente em equações internacionais e seu direito à autodeterminação. Algo que foi considerado um grande perigo para aquele sistema dominante no mundo.

De acordo com esta situação, que representou um grande perigo para os interesses dos Estados Unidos, após o triunfo da Revolução Islâmica e, especialmente, após a queda da União Soviética, Washington concentrou seus esforços para provocar uma mudança ou tentar derrubar o sistema iraniano.  É por isso que eles lançaram uma guerra de oito anos, utilizando como instrumento o regime ditatorial iraquiano de Saddam Hussein.

Vendo que a guerra física falhou, eles recorreram a uma guerra suave (guerra midiática) para alcançar seu objetivo. Eles impuseram sanções, consideradas ilegais, sob o pretexto de que o país pretendia fabricar armas atômicas. Por isso, buscaram dois objetivos: pressionar o povo e tornar sua vida cotidiana difícil visando provocar um confronto com o sistema do país e também isolar o povo iraniano e o governo na arena internacional.

No entanto, mais uma vez, o resultado não foi o esperado. Na verdade, no exterior, não só não podem enfraquecer e marginalizar o Irã, como hoje este país desempenha um papel fundamental nas questões regionais e internacionais. Até o ponto de, atualmente, para resolver conflitos e crises no Iraque, na Síria, no Líbano, no Iêmen e no Afeganistão, entre outros, há que contar com Teerã.

Avanços do Irã após a Revolução

As conquistas do país nas últimas quatro décadas são múltiplas em diferentes campos. Vale ressaltar que a economia do Irã durante a monarquia de Pahlavi estava baseado na montagem, dependente do Ocidente e somente consumidor, administrada apenas com o dinheiro do petróleo.

Com a vitória da Revolução Islâmica, o Irã projetou grandes objetivos como a independência econômica, a auto-suficiência, a criação de empregos e uma vida padrão para seus cidadãos. Apesar de um grande número de dificuldades e obstáculos, como sanções extensivas, uma guerra imposta por oito anos e várias conspirações, nestas quatro décadas, o Irã conseguiu um bom desenvolvimento econômico.

Neste contexto, devemos acrescentar a redução significativa da pobreza no país. Em 1977, de acordo com o Banco Mundial, 46% dos iranianos viviam abaixo da linha de pobreza. Este número diminuiu para 8% em 2015, de acordo com um relatório do Fórum Econômico Mundial. No campo da capacidade defensiva, até hoje, o Irã produz a maior parte do equipamento necessário. O seu poder aéreo, marítimo e terrestre cresceu continuamente. O país Produz drones, aviões e helicópteros. Possui mais de 10 modelos de tanques e veículos militares. Protegem-se por mar com navios de guerra, destroier, barcos e submarinos. E o seu maior poder dissuasivo é o programa de mísseis que inclui mísseis balísticos e de alta precisão. Por sua vez, a produção científica e os avanços tecnológicos, que são considerados os principais indicadores do desenvolvimento de um país, no Irã, apesar das duras sanções a que está submetido do exterior, a ciência tem podido florescer graças à capacidade dos iranianos.

No contexto nuclear, o Irã conseguiu enriquecer o urânio em 3,5% em 2007 e, em 2012, conseguiu enriquecer o urânio em 20% para injetá-lo no centro de pesquisa Fordo no centro do país. Agora, o Irã é um dos poucos países que produzem energia nuclear no mundo.

Embora o Irã apareça classificado entre os países em desenvolvimento, tem conseguido grandes avanços no setor aeroespacial, tornando-se um dos pioneiros neste campo.

Em 2009, o Irã lançou o primeiro satélite da sua própria fabricação. Com o satélite Omid, ele entrou no pequeno clube dos nove países que possuem essa capacidade. O primeiro foguete iraniano foi lançado no espaço com sucesso em 2013, com um macaco a bordo. Com o lançamento do segundo foguete com um ser vivo, o Irã deu outro passo para mandar o homem para o espaço.

Suas conquistas científicas também se destacam na biotecnologia. Nos últimos anos, engenheiros genéticos iniciaram pesquisas importantes, o que resultou na produção e exportação de dezenas de biomedicinas. O Irã está entre os 10 melhores países do mundo no campo da pesquisa e da tecnologia de células-tronco. Ele registrou grandes sucessos em termos de clonagem de animais. Ele também alcançou grandes conquistas no transplante de medula óssea, ocupando a segunda posição no planeta, depois da Itália.

A eles, devemos adicionar os avanços no campo da nanotecnologia. Embora esta matéria fosse ainda muito jovem, o Irã tem avançado bastante, classificando-se entre os seis melhores países do mundo. O Irã já começou a exportar nanotecnologia para a Coréia do Sul e a China, países pioneiros desse setor.

Contudo o exposto sobre o passado e a situação atual do Irã, tem de salientar que o país, apesar das pressões e manipulações mediáticas em larga escala, é considerado um país modernizado e independente em muitos aspectos, graças às políticas econômicas e sociais da Revolução Islâmica.

Rasoul Goudarzi Jornalista e analista internacional, Mestrado em Relações Internacionais na Universidade Azad do Irã. Especialista em temas principalmente do Oriente Médio e do Irã. Ele é colaborador de várias redes internacionais de notícias.