Primeiros migrantes e refugiados reenviados da Grécia para a Turquia
Três barcos turcos com dezenas de migrantes a bordo saíram nesta segunda-feira das ilhas gregas de Lesbos e Chios, cumprindo o acordo entre a União Europeia e a Turquia, que tem sido criticado por defensores dos Direitos Humanos.
Pouco depois das 4h, num pequeno ferry (o Lesvos) e num catamarã maior (o Nezli Jale) embarcaram 131 pessoas, maioritariamente do Paquistão e do Bangladesh, no porto de Mytilene, em Lesbos, segundo uma porta-voz da Frontex, a agência europeia de vigilância das fronteiras externas da UE.
Algumas pessoas apareceram para manifestar o seu apoio, mas a operação decorreu de forma calma.
Em Chios, outra ilha do Mar Egeu, um outro barco turco partiu às 5h com um número de migrantes que não foi divulgado. Algumas dezenas de activistas organizaram uma manifestação perto do barco.
Esta é a primeira vaga de migrantes e refugiados reenviados para a Turquia, no quadro do acordo assinado com a UE a 18 de Março. Desde 20 de Março, segundo as contas da AFP, terão entrado ilegalmente na Grécia cerca de 6000 refugiados e migrantes.
O plano prevê que por cada sírio repatriado um outro seja admitido na União Europeia, até um máximo de 72 mil lugares.
Um primeiro grupo de 35 sírios deverá chegar nesta segunda-feira a Hanôver, no Norte da Alemanha. Uma fonte do Governo alemão informou ainda que algumas dezenas chegarão igualmente a outros países europeus, como a França, Finlândia e Portugal.
A agência noticiosa grega ANA anunciou no domingo que 750 migrantes serão reenviados para a Turquia entre segunda e quarta-feira, à média de 250 por dia, maioritariamente pessoas do Paquistão, Sri Lanka e vários países africanos.
“Dissemos às autoridades gregas que podemos transportar 500 pessoas [na segunda-feira] e deram-nos 400 nomes. É possível que o número mude amanhã”, disse à agência turca Anatolia o ministro do Interior turco, Efkan Ala.
A Turquia começou a preparar centros de acolhimento em frente às ilhas de Lesbos e Chios e um campo com maior capacidade mais no interior do país. A UE enviou, por sua vez, forças para acompanhar a operação.
Muitos migrantes pediram asilo no último minuto, aproveitando que o acordo UE-Turquia prevê a análise individual de cada caso (e a possibilidade de recurso em caso de recusa de asilo), o que permite ganhar algum tempo.
Segundo Boris Cheshirkov, porta-voz do Alto-Comissariado para os Refugiados (ACNUR) em Lesbos, “mais de 2000 pessoas já anunciaram a intenção de pedir asilo”.
Esta operação de envio de refugiados e migrantes da Grécia para a Turquia tem motivado a preocupação de activistas dos Direitos Humanos. No sábado, Peter Sutherland, conselheiro especial da ONU para as migrações, mostrou preocupação com “expulsões colectivas sem levar em contra os direitos individuais daqueles que afirmam ser refugiados”.
Giorgos Kyritsis, coordenador grego para as questões migratórias, afirmou à AFP que esta operação se destina apenas a “pessoas que não pediram asilo”.
A Amnistia Internacional, entretanto, acusou Ancara de obrigar diariamente centenas de sírios a regressar ao seu país, uma acusação rejeitada pela Turquia.
Este acordo, no entanto, não resolve o problema de cerca de 50 mil outros migrantes e refugiados que chegaram à Grécia antes de 20 de Março, data a partir do qual o acordo entrou em vigor.