Metade dos eleitores moçambicanos não vota
Em Moçambique, mais de metade dos eleitores não vai votar desde as eleições gerais de 2004. Os jovens e as mulheres são os que mais se abstêm de ir às urnas, revela um estudo do IESE divulgado esta quarta-feira (30.03).
O desinteresse pela política, a desconfiança em relação aos políticos e a ideia de que o voto não tem nenhum efeito são os motivos que mais contribuem para a abstenção em Moçambique.
O investigador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), Luís de Brito, diz que os níveis de abstenção são mais elevados entre os cidadãos menos letrados, camponeses e nas famílias com piores condições de vida e com menos acesso aos serviços básicos, especialmente a água.
Os dados do estudo, divulgado esta quarta-feira (30.03) pelo IESE, permitem ainda supor que há uma relação entre a abstenção e a insatisfação com o desempenho do Executivo moçambicano, afirma Luís de Brito: "Apareceram algumas indicações de que há mais abstencionistas entre aqueles que têm uma posição crítica em relação ao Governo".
Abstenção reflete crise de cidadania
De acordo com Luís de Brito, as altas taxas de abstenção espelham uma crise de cidadania. O investigador defende a implementação de medidas de incentivo à participação na vida política.
João Pereira, diretor do Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil (MASC), concorda: "Se calhar devia haver um programa que envolvesse o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano no sentido de consciencializar as pessoas, principalmente os estudantes daquela faixa etária, sobre a importância de participar e ter um interesse muito forte em assuntos de natureza política", clarifica o responsável da organização não-governamental.
Segundo o estudo do IESE, a contestação sistemática dos resultados pela oposição também pode influenciar os níveis de abstenção nas eleições. João Pereira acredita que se a atual tensão política entre o Governo e a RENAMO se prolongar, poderá continuar a afastar os eleitores das urnas.
"Se este processo continuar, sim. E depois também temos a situação da violência política, que surge antes e durante o período eleitoral. Isto também compromete muito a ação do próprio cidadão de se recensear e de acreditar no próprio processo", lamenta João Pereira.
O investigador Luís de Brito considera que o estudo do IESE vai permitir elaborar mensagens de educação cívicas dirigidas a populações específicas: "Identificámos alguns grupos em relação aos quais é possível dirigir as ações de educação eleitoral e cívica. Até hoje, a educação cívica e eleitoral é feita, em geral, nas ruas e nos bairros, mas sem um público-alvo muito bem determinado".