Polícia espanhola usou força "excessiva e desproporcional"
A Amnistia Internacional considerou hoje que a polícia nacional espanhola e a Guardia Civil usaram a força de forma "excessiva e desproporcionada" contra pessoas que resistiam "passivamente" contra a ordem judicial de impedir a votação no referendo da Catalunha.
O diretor da Amnistia Internacional em Espanha, Esteban Beltrán, afirmou hoje que a Polícia e a Guardia Civil foram "claramente obstaculizadas no exercício das suas funções" em muitas assembleias de voto, mas salienta que a reação das forças policiais deve "ser investigada" e os seus responsáveis levados à justiça.
A justiça espanhola considerou ilegal o referendo pela independência convocado para domingo pelo governo regional catalão e deu ordem -- através do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha (TSJC) - para que a polícia regional fechasse os locais de votação.
Face à inação da polícia regional, os Mossos d'Esquadra, em alguns locais, foram chamadas a Guardia Civil e a Polícia Nacional espanhola. Foram estes corpos de polícia de âmbito nacional que então protagonizaram os maiores momentos de tensão para tentar impedir o referendo.
A Guardia Civil e a Polícia Nacional espanhola realizaram cargas policiais e entraram à força em várias assembleias de voto que tinham sido ocupadas por pais, alunos, residentes e cidadãos em geral numa tentativa de garantir que os locais permaneceriam abertos.
Os confrontos provocaram -- segundo a Generalitat -- mais de 890 feridos.
O diretor da AI exige, por isso mesmo, que se deve abrir com urgência uma investigação "exaustiva, imediata e imparcial por parte das autoridades espanholas sobre o uso excessivo e desproporcionado da força".
A organização de defesa dos Direitos Humanos enviou há dias uma delegação de cinco pessoas para monitorizar a situação na Catalunha, tendo visitado no domingo vários centros de votação e recolhido testemunhos e declarações de intervenientes.
Pelo que assistiu no domingo, a Amnistia Internacional assegura que os polícias e guardas civis, "em muitos casos" usaram de forma "perigosa e inadequada" material antidistúrbios, como projéteis de borracha.
Assim, no cruzamento da Rua Sardenya com a Rua Diputació, em Barcelona, dois observadores da AI "foram testemunhas de uma carga policial dos agentes" contra um grupo de manifestantes que se sentaram na estrada para impedir a passagem das carrinhas policiais que foram à escola pública Ramon Lull para apreender urnas.
Os agentes, relata a AI, "bateram" nos manifestantes com cassetetes de borracha e alguns dispararam salvas (munições sem projétil), o que dispersou o grupo de pessoas em protesto.
Algumas pessoas lançaram então objetos contra os polícias, que depois dispararam bolas de borracha a escassa distância dos manifestantes. Nesse momento ficaram feridas duas pessoas, uma na perna e outra no olho direito, o que obrigou a intervenção cirúrgica.
Segundo outros testemunhos, os agentes usaram material antidistúrbios de forma excessiva contra pessoas concentradas em escolas, como no caso da Escola Mediterrània no bairro da Barceloneta.
As imagens difundidas nos meios de comunicação mostram também que alguns polícias agrediram pessoas "indefesas sem que houvesse qualquer ameaça aparente".
A AI recorda que desde que os participantes numa reunião ou manifestação não oponham uma resistência violenta à polícia, esta não pode usar a força, que deve sempre ser "a mínima necessária e proporcional ao objetivo pretendido".