Exército birmanês planeou massacres contra minoria rohingya
(last modified Tue, 19 Dec 2017 09:37:22 GMT )
Dez. 19, 2017 09:37 UTC
  • Exército birmanês planeou massacres contra minoria rohingya

Alguns dos massacres cometidos em aldeias da minoria muçulmana rohingya no oeste da Birmânia foram claramente planeados pelo exército birmanês, apoiado por populares budistas, denunciou hoje a Human Rights Watch (HRW).

Num novo relatório focado na localidade de Tula Toli e apoiando-se em dezenas de testemunhos de sobreviventes, a organização internacional de defesa dos direitos humanos descreve como as forças de segurança emboscaram membros da comunidade rohingya nas margens de um rio para de seguida matar e violar homens, mulheres e crianças e incendiar a pequena aldeia.

"As atrocidades do exército birmanês em Tula Toli não foram apenas brutais - foram sistemáticas", declarou Brad Adams, diretor da HRW para a Ásia.

"Os soldados mataram e violaram centenas de rohingya com uma eficácia particularmente cruel, que só poderia ter sido planeada com antecedência", realçou.

Inúmeros habitantes da aldeia declararam à HRW que o líder local, membro da etnia rakhine (budista), lhes disse para se concentrarem na praia, alegando que lá estariam a salvo.

Mas, de seguida, as forças de segurança cercaram a área, disparando contra a multidão reunida e que tentava fugir.

"Eles agarraram os homens e forçaram-nos a ajoelhar-se antes de os matar. Em seguida, empilharam os seus corpos. Primeiro atiraram-nos e se ainda estivessem vivos agrediam-nos com machetes até à morte", contou Shawfika, de 24 anos, que assistiu à morte do marido e do sogro.

Hassina Begum, 20 anos, tentou esconder a sua filha, de 1 ano, Sohaifa, debaixo de um lenço, mas um soldado apercebeu-se. "Ele pegou na minha filha e atirou-a para as chamas", acrescentou.

"A ONU e os governos estrangeiros devem garantir que os responsáveis desses graves abusos prestam contas [na justiça] pelos seus atos", sustentou Brad Adams.

Na semana passada, a organização Médicos Sem Fronteiras estimou que pelo menos 6.700 rohingya tenham sido mortos entre finais de agosto e finais de setembro.

A violência no oeste da Birmânia levou 655.000 rohingya a fugir para o vizinho Bangladesh. O Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos invocou elementos de genocídio.

Até ao momento, o exército birmanês negou qualquer represália contra civis, garantindo que apenas 400 pessoas foram mortas, incluindo "alguns inocentes".

No entanto, revelou na noite de segunda-feira a abertura de um inquérito após a descoberta de uma vala comum na aldeia de Inn Dinn, com o chefe do exército a indicar, através do Facebook, que haverá lugar a processos se membros das forças de segurança estiverem envolvidos.