Mariano Rajoy, o sobrevivente afastado do governo em Espanha
Mariano Rajoy, o chefe do Governo espanhol conhecido por ser um resistente e por aguentar todos os embates da política, está hoje de saída após a votação de uma moção de censura que o afastou do poder.
A moção de censura do partido socialista recolheu o apoio da maioria absoluta do Congresso e Pedro Sánchez será por isso investido como chefe do Governo.
Rajoy, 63 anos, é um político muito experiente que em 1981 era deputado na região da Galiza e que, desde então, ocupou diferentes cargos públicos até chegar ao topo do Governo, o que conseguiu em dezembro de 2011.
Aos quase seis anos e meio frente ao governo espanhol juntam-se outros oito em que esteve nos diferentes gabinetes de José María Aznar (1996-2004) como ministro.
Há apenas oito dias, o líder conservador viu o seu mandato salvo porque, a 23 de maio, o Congresso aprovou o Orçamento do Estado e todos os analistas concordaram que tal permitiria a Rajoy chegar ao fim do seu mandato, em meados de 2020.
No entanto, no dia seguinte, o Tribunal Nacional proferiu a sentença do caso Gürtel, uma teia de comissões e pagamentos opacos entre cargos do PP e empresários que resultou em sentenças de prisão para alguns deles e uma condenação civil ao partido pelo lucro obtido.
A sentença gerou uma enxurrada de críticas contra o PP, que nestes últimos anos acumulou outros julgamentos e acusações de crimes de corrupção.
Em 24 horas, a situação mudou e Rajoy passou a ser visto como o protagonista principal de um partido ligado à corrupção.
A moção de censura socialista atingiu tais proporções que esmagou Rajoy, de quem sempre se disse que não deixa transparecer as suas emoções e que tem muita capacidade para aguentar a pressão.
A crise económica e a disputa com os secessionistas catalães colocaram à prova o tempo de Rajoy, que visto como magistral pelos seus seguidores, enquanto os seus detratores o veem como alguém que tem dificuldades em tomar decisões.
Em 2004 tudo apontava para que Rajoy se tornasse chefe do Executivo, mas o efeito na população dos atentados de islamitas radicais em Madrid, que provocaram quase 200 mortos, três dias antes das eleições, levaram o PP à derrota, perdendo para o socialista José Luis Rodríguez Zapatero (2004-2011).
Como líder do PP, Mariano Rajoy fez uma travessia no deserto difícil até que, em finais de 2011, o governo socialista assolado pela crise económica foi vencido nas urnas pelo PP.
No final de 2011, o PP ganhou por maioria absoluta, a qual perderia em dezembro de 2015, com o impacto da crise e da corrupção a fazer-se sentir e a ter repercussões eleitorais.
Foi então que Rajoy teve um gesto inédito e, pela primeira vez em democracia, declinou a oferta do rei Felipe VI de formar governo, por considerar que não tinha apoio.
Já como presidente interino, sem competências plenas, Rajoy viu Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE, tentar substituí-lo, embora sem êxito.
A repetição eleitoral de junho de 2016 permitiu ao PP melhorar os seus resultados, que continuaram longe de uma maioria governamental.