Out. 14, 2018 02:32 UTC
  • Libertado na Turquia, pastor americano retorna aos EUA

Condenado por colaborar com terrorismo, Andrew Brunson chega a Washington após dois anos preso. Trump recebe missionário na Casa Branca, agradece a Erdogan e prevê alívio das tensões com Ancara, agravadas após prisão.

Libertado na Turquia após dois anos preso, o pastor americano Andrew Brunson retornou neste sábado (13/10) aos Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente Donald Trump. A soltura do religioso promete aliviar uma disputa diplomática agravada por sua prisão em 2016.

Após uma breve parada na Alemanha para uma avaliação médica, Brunson pousou em território americano a bordo de um jato militar, um dia depois de deixar o cárcere na Turquia. Ele e sua família foram recebidos por Trump em Washington horas depois.

"De uma prisão turca para a Casa Branca em 24 horas. Nada mal", brincou o presidente americano durante o encontro no Salão Oval, que foi transmitido ao vivo pela televisão. "Você é muito, muito especial para nós", completou.

O pastor de 50 anos, por sua vez, que aparentava boa saúde, agradeceu a Trump pelos esforços para garantir sua liberdade. "Você realmente lutou por nós", declarou o religioso, antes de se ajoelhar diante do chefe de Estado e rezar para que ele tenha "sabedoria sobrenatural".

Antes e durante o encontro, o presidente insistiu que, embora as negociações com a Turquia tenham sido "longas e difíceis", a libertação de Brunson não foi fruto de um acordo entre Ancara e Washington, frisando que seu país não pagou qualquer resgate em troca do pastor.

"Eu não faço pactos por reféns", disse Trump no Twitter, agradecendo ainda ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, "por sua ajuda" na libertação de Brunson.

Ao afirmar que Washington teve um "grande apreço" pela decisão da Justiça turca de libertar o pastor, o líder americano antecipou que a soltura promete levar a "boas, ou talvez ótimas, relações entre os Estados Unidos e a Turquia".

As declarações de Trump vieram depois de a imprensa americana ter especulado que Washington teria se comprometido a suspender as sanções que impôs a Ancara em agosto deste ano, justamente em retaliação à prisão de Brunson no país.

O pastor americano, que organizou uma igreja protestante na cidade turca de Izmir, foi preso em outubro de 2016, acusado de terrorismo e espionagem e de atuar em conluio com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado uma "organização terrorista" por Ancara.

O governo turco também apontou ligações entre Brunson e o religioso oposicionista Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos desde 1999 e acusado por Erdogan de ser o mentor da tentativa frustrada de golpe de Estado em julho de 2016 na Turquia.

Nesta sexta-feira, um tribunal turco condenou Brunson a três anos de prisão por "colaborar com grupos terroristas", enquanto a acusação de espionagem foi retirada. O réu, que morou na Turquia por mais de duas décadas, sempre negou as acusações.

Apesar da condenação, a corte decidiu libertar o missionário e conceder-lhe permissão para voltar aos Estados Unidos, alegando que o americano já cumpriu dois terços de sua pena em prisão preventiva, enquanto aguardava julgamento. Ele deixou a Turquia horas depois.

O caso elevou as tensões entre Washington e Ancara neste ano, quando os Estados Unidos transformaram sua libertação em uma causa diplomática. A Turquia, por sua vez, se defendia alegando a independência de seus tribunais.

Em agosto, a Casa Branca impôs sanções contra os ministros turcos de Justiça, Abdülhamit Gül, e do Interior, Süleyman Soylu, por seu papel na detenção de Brunson. O aumento das tensões contribuiu para uma queda da lira turca.

Trump também dobrou as tarifas sobre o aço e alumínio da Turquia, o que levou Ancara a responder com o aumento de taxas que variam de 10% e 140% sobre alguns produtos americanos.

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