Out. 13, 2018 10:49 UTC
  • Ahl ul-Baite (familia do profeta) na corte do  tirano califa Yazid

Pars Today- Chegou o mês de Safar, a data em que as crianças e as mulheres da abençoada família do Profeta Maomé (Bênçãos de Deus sobre ele e sua descendência) foram levadas a Damasco, para a corte do tirano Yazid, como cativos acorrentados e exaustos, junto com a cabeça cortada do Imam Hussein (AS), exatamente 20 dias após a tragédia de Karbala.

Preparamos nesta ocasião comovente este texto, concentrando-se no eloquente sermão da irmã do Imam martirizado, Hazrate Zainab (que a paz esteja sobre ela) que desmascarou a hipocrisia do regime ímpio de Omíada e expôs Yazid em suas verdadeiras cores pagãs.

Depois do que aconteceu na cidade de Kufa, quando a neta do Profeta e os sobreviventes do massacre do Dia da Ashura, incluindo o filho e sucessor do Imã Hussein (AS), o Ali-ibn-Al-Hussein (Zain al-Abedin), foram levados à corte do governador tirânico, Obaidollah bin Ziyad, ainda mais tribulação esperava a Ahl ul-Bite na Síria, uma vez que o povo desta terra, ao contrário de Kufa e Iraque, sofreu uma lavagem cerebral tão completa por décadas de governo Omíada, pela qual mal tinham ideia e uma posição da descendência do Profeta e os princípios genuínos do Islã.  O teólogo, Allamah Shaikh Fakhreddin escreve em seu livro “al-Muntajab” que segundo o Imam Zain al-Abedin (AS): “Nós fomos amarrados com cordas levados em direção à (corte de) Yazid ibn Mu'awiyah. Meu pescoço e o de (minha tia) Omm Kulsoum estavam amarrados com uma corda, enquanto as mãos de (minha tia mais velha) Zainab e (minha irmã) Sakina (paz sobre elas) algemados junto com as outras damas (da Casa do Profeta). Às vezes fomos chicoteados por caminhávamos devagar e, quando chegamos à corte, vimos Yazid sentado em um trono, enquanto na frente dele estava a cabeça do (meu pai) Imam Hussein (AS) em uma bandeja de ouro. Ele tinha uma bengala na mão e profanava e à cabeça decepada".

O tirano estava entusiasmado com o martírio de Imam Hussein (AS). Ele desejava abertamente que, se apenas seus ancestrais infiéis, que tentassem atacar o Profeta tivessem sido mortos nas batalhas de Badr e Ohod, estivessem vivos para testemunhar como ele havia humilhado a Casa do Profeta. 

A esta blasfêmia, Hazrate Zainab (que a paz esteja sobre ela) não podia mais suportar a visão do amaldiçoado Yazid desrespeitando a cabeça decepada do Imam Hussein (AS) batendo nos lábios com uma bengala. Quando sua irmã mais nova, enlutado e traumatizado, Omm Kulsoum, se jogou sobre a cabeça de seu irmão, porem a Zainab deu início a um de seus sermões mais eloquentes que teve um efeito profundo sobre os presentes naquele encontro. Ela disse:

“Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, e que a paz e a benção de Deus estejam com o Profeta Mohammad e sua purificada linhagem. Deus disse no Alcorão Sagrado: E o destino daqueles que cometeram o mal será pior, pois desmentiram os versículos de Deus e deles escarneceram! Ó Yazid, Deus e Seu Profeta disseram que pecar e considerar os Seus sinais falsos é igual a ridicularizá-los. Ou seja, negar o sinal de Deus, considerá-lo insignificante e alegrar-se com isso, recitar poemas acerca do martírio dos filhos do Profeta da mesma forma que os idólatras de Meca alegravam-se e cantavam pelo martírio dos muçulmanos na batalha de Uhud e falar sobre vingança sobre o Profeta. Dessa maneira vos tornaram como eles. Como chegaram a tal ponto? Chegaram por terem cometido muitos pecados. Aquele que trilha o caminho do pecado e persiste nele irá, de acordo com o veredicto do Alcorão, negar os sinais de Deus, eventualmente os ridicularizarão, e merecerão a punição divina. Ó Yazid, achas que nos tornamos humilhados e desonrados devido ao martírio de nossos familiares e nosso aprisionamento? Por ter nos fechado os caminhos, nos capturado e conduzido de um lugar a outro, achas que Deus retirou Suas bênçãos de nós? Achas que matando pessoas santas vos tornastes grandioso e respeitável, e que Deus Vos olha com carinho e bondade? Por isso, e devido a seu pensar desvirtuado, vos tornastes arrogante e orgulhoso. Tornou-vos jactancioso por ver os acontecimentos ocorrerem em seu favor. Vos esquecestes, entretanto, o que Deus disse: Aqueles que trocam a fé pela incredulidade, em nada prejudicam a Allah, e sofrerão um doloroso castigo. 178. Que os incrédulos não pensem que os toleramos, para o seu bem; ao contrário, toleramo-los para que as suas faltas sejam aumentadas. Eles terão um castigo afrontoso.

Na continuação de seu sermão memorável, ela disse: Ó filho do .... (?), é justo que mantenha vossas esposas e servas reclusas, mas o é que faça das filhas do Profeta desabrigadas, monte-as em camelos e as entregue a seus inimigos, que as conduz de uma cidade a outra? Como não serias maldoso conosco, uma vez que nos olha com tamanha hostilidade. Dissestes com intrepidez e sem imaginar que pecavas: ‘Desejava que meus familiares que foram mortos em Badr estivessem presentes hoje.’ Golpeais o Imam Hussein em seu dente com um bastão! Porque agis dessa forma, como se já não tivesse feito o que quisestes e já não tivestes ferido as raízes da virtude e da piedade! Derramastes o sangue dos filhos do Profeta e apagastes as brilhantes estrelas da terra dentre os descendentes de Abdul Muttalib sob as nuvens da opressão e da injustiça. Entretanto, estareis perante Deus em breve. Encontrareis vossos antecessores e será conduzido para o mesmo lugar deles. Nesse momento desejareis profundamente que fosseis cego e mudo e não tivesse dito que esse foi um dia de júbilo para vossos antecessores”.

Na continuação de seu sermão, a neta do Profeta disse na corte do tirano em Damasco:

“Por Deus que vós arrancastes vossa pele e cortastes vossa carne. Em breve estareis perante o Profeta de Deus e verás com seus próprios olhos que seus filhos estão no Paraíso. Este será o dia em que Deus libertará os descendentes do Profeta da dispersão e os reunirá no Paraíso. Essa é a promessa que Deus fez no Alcorão Sagrado. Ele diz: ‘Pensais que aqueles que foram abatidos pela causa de Deus estão mortos? Sabeis que eles estão vivos com seu Senhor e por Ele são sustentados.”

Hazrate Zainab, em seguida, acrescentou para a surpresa de toda a corte e o embaraço do tirano: Ó Yazid, no dia em que Deus for o Juiz e Mohammad o intercessor, vossos membros testemunharão contra vós, vosso pai, que vos fez governante dos muçulmanos, receberá a punição. Neste dia será conhecida a recompensa que os opressores merecem, qual posição é pior e qual grupo é mais humilde. Ó inimigo de Deus e filho do inimigo de Deus, eu juro por Deus que vos considero humilde e que não és digno sequer de seres reprimido e advertido. O que devo fazer, nossos olhos derramam lágrimas, nossos corações queimam e nossos mártires não voltaram com nossa reprimenda e advertência. Meu Hussein foi morto e os partidários de Satã nos conduzem aos tolos que, por sua vez, terão suas recompensas por insultarem a Deus. Nosso sangue escorre de suas mãos e nossa carne cai de suas bocas. Os santos corpos dos mártires foram deixados aos lobos e aos selvagens animais carnívoros. Se ganhastes algo com o derramamento de sangue, certamente estará entre os perdedores no Dia do Juízo. Neste dia nada será contabilizado senão vossas ações. Neste dia amaldiçoarás Ibn Marjana e ele vos amaldiçoará. Neste dia vós e vossos seguidores discutireis uns com os outros por um lado da balança divina. Neste dia verão que a melhor provisão que seu pai vos concedeu foi a possibilidade de assassinardes os descendentes do Profeta. Juro por Deus que nada temo senão Ele e não recorro a nenhum outro. Vós empregareis vossos vão esforços, porém juro por Deus que a humilhação e a desgraça que acumulastes por ter-nos tratado dessa maneira não poderão ser erradicadas. Eu louvo a Deus, que concluiu a vida dos líderes dos jovens no Paraíso com prosperidade e misericórdia, e acomodou-os no Paraíso. “Rogo a Deus que Ele eleve suas posições, pois Deus é o Todo-Poderoso”.

Este discruso, de acordo com os historiadores, foi um dos discursos mais importantes no Islam, e é considerado como a continuidade da revolução do Imam al-Hussein (A.S.). Zainab destruiu o trono de tirania e de orgulho que o governante tinha criado, e atingiu Yazid em cheio, abalando-o com a vitória da justiça que é representada pelo Imam al-Hussein (A.S.). Ela (A.S.) esclareceu que aquele que vence com utilizando-se da injustiça é um verdadeiro perdedor e derrotado, e que a justiça sempre vencerá a opressão. Ela esclareceu que os orientadores da verdade e do bem possuem nomes limpos e cabeças erguidas, cheios de honra, e jamais serão humilhados pelos        tiranos e            governantes    opressores.     

Ela        se          declarou uma fiel         à            causa   do         Imam al-Hussein (A.S.). Por isso, dizemos que os discursos do Imam Zain ul-Abedin (A.S.) e de Zainab al-Kubra em Sham esclareceram muito a ideia e as opiniões das pessoas, pois a população era vitima de propagandas enganosas, e com estes discursos os Ahl ul-Baite (A.S.) esclareceram a verdade ao povo. Estas propagandas enganosas chegaram a um grau que as pessoas achavam que os Omíadas era quem eram os Ahl ul-Baite (A.S.), e que os prisioneiros eram os fora-da-lei.

O tirano aterrorizado, sentindo os sentimentos do povo contra ele, libertou a Ahl ul-Baite e permitiu que voltassem a Medina, mas antes de deixar a Síria, Hazrate Zainab  realizou a primeira cerimônia formal de luto pelos mártires de Karbala, que os fiéis continuaram a observar desde sempre nos meses de Muharram e Safar, no calendário islâmico.

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