Jul. 22, 2018 07:42 UTC
  • Conquista da Andaluzia, a ascensão da civilização islâmica na Europa

Pars Today-Andaluzia ou a Península Ibérica é uma terra no sudoeste da Europa, que inclui o atual território da Espanha, Portugal e da região de Gibraltar. Por 800 anos, este país incluiu uma parte da civilização islâmica e se tornava uma ponte entre o Oriente e o Ocidente em várias esferas políticas, econômicas, sociais e culturais.

A Andaluzia é a verdadeira representação do que o mundo imagina do povo espanhol. Gente de sangue quente, que convive com histórias, tradição religiosa e muita alegria.

Muitas heranças do domínio muçulmano sobreviveram à Reconquista e marcam o cenário espanhol, principalmente na Andaluzia, no sudoeste do país, onde se pode sentir a magia de um conto das “Mil e Uma Noites” ao entrar nas fortalezas (alcazabas), residências reais (alcázares), mesquitas e jardins.

O interessante é que essas construções muçulmanas e as medinas (bairros típicos árabes) na Andaluzia estão ao lado de igrejas católicas e sinagogas, de um lado, isso porque, quando os Reis Católicos reconquistaram esse território, expulsaram os árabes e judeus que ali conviviam e deram início às suntuosas construções que caracterizam esse período da história espanhola. E por outro lado, uma visão do pensamento muçulmano de preservar uma convivência pacifica entre os povos, onde o islamismo dominava.

Por volta de 1000 a.C., estabeleceram-se diversos povos na região, entre eles os fenícios, gregos e cartagineses. Reino de Tartessos foi o nome pelo qual os gregos denominaram a região que tinha, por linha central, o vale do rio Tartessos, que, depois, os romanos chamaram de Bétis e os árabes de Guadalquivir. No século VI a.C., Tartessos desapareceu abruptamente e, quando os romanos lá chegaram, o reino já não existia mais. Os cartagineses abandonaram a região quando Cartago foi derrotada pelos romanos na Segunda guerra púnica.

Por muito tempo, os romanos também governavam esta terra. A Península Ibérica foi muito importante para o governo romano, uma vez que esta região estava localizada no caminho da Europa para a África, por isso ligava os dois continentes.

Os romanos governaram na Andaluzia até o século VII, quando os visigodos entraram na península na forma de invasores e expulsaram os romanos. Desta forma, a Andaluzia estava sob a ocupação dos visigodos até 711. Os reis visigodos eram muito tiranos e o povo não suportava sua crueldade; por esse motivo, durante a invasão dos muçulmanos em 711, a maioria das grandes cidades abriu suas portas para o novo exército conquistador. Em outras palavras, se refugiaram nas crenças muçulmanas e os slogans inspiraram a se salvarem de seus reis corruptos.

A entrada dos muçulmanos na Espanha no ano de 711 foi feita durante o governo de Walid bin Abdul Malik, o califado omíado. Ele nomeou Musa Bin Nasir para governar o norte da África, recentemente conquistado pelos muçulmanos. Este califa escolheu a Espanha como parte de seus planos para conquistar outras áreas para convidar as pessoas ao islamismo. Musa Bin Nasir ordenou que um de seus comandantes, Tariq Ibn Ziyad, conquistasse a Espanha. Assim, este soldado cruzou o Estreito de Gibraltar com um pequeno exército composto de homens de guerra e viajou no ano 92 da Hégira lunar para um lugar que ainda era conhecido pelo seu nome. Em quatro anos ele conseguiu conquistar toda a Andaluzia.

Quando Tariq chegou à Espanha, a Europa estava submersa na inquisição e oposição à ciência. Na Idade Média, a Igreja Católica dedicava-se a investigar pessoas e sujeitá-las aos métodos da inquisição. Muitas pessoas, especialmente cientistas, foram acusadas de apostasia, politeísmo e feitiçaria nos tribunais da inquisição. Essas pessoas foram inicialmente sentenciadas à tortura e, finalmente, à execução de forma desumana. Com a chegada dos muçulmanos, mudou o destino desta região.

Após a conquista da Andaluzia, os muçulmanos garantiram a liberdade dos cristãos e judeus desta terra e deram-lhes refúgio em vez de exigir tributo. O bom comportamento dos muçulmanos com os cristãos foi de tal maneira que durante o domínio dos muçulmanos, os cristãos desfrutaram de liberdade e segurança mais do que nunca, mantiveram a autoridade de seus templos e suas propriedades e foram julgados de acordo com suas próprias leis, exceto em casos de violação da lei islâmica, os julgamentos tinham sido realizados em tribunais especiais. Essa liberdade religiosa aproximou os cristãos e os muçulmanos, de modo que o casamento de homens muçulmanos com mulheres cristãs foi um ato comum. Mas, além disso, alguns cristãos escolheram nomes islâmicos para si mesmos e compartilharam com seus vizinhos muçulmanos em algumas cerimônias. Os cristãos, por sua própria vontade, obedeceram aos muçulmanos e os judeus por sua vez tiveram uma vida tranquila na sua convivência com muçulmanos andaluzos.

Quando começou o massacre de judeus em algumas partes da Europa, alguns deles se refugiaram à Andaluzia, e os muçulmanos os receberam de braços abertos e lhes proporcionaram a segurança.

Após a conquista da Andaluzia, arte e cultura floresceram nesta região. De acordo com Henry Stephen Lucas, conhecido escritor e autor de “Short History of Civlization”, as grandes realizações dos muçulmanos na Espanha são de grande importância para a cultura europeia. Após a abertura das portas da Espanha para os muçulmanos, os governantes muçulmanos familiarizaram essa região com cultura, educação e pensamento islâmico. Ao aceitar valores e tradições islâmicas, a vida das pessoas nesta zona mudou rapidamente, de modo que as cidades de Córdoba, Toledo e Granada se tornaram centros de florescimento científico, cultural e artístico, e a educação islâmica foi exportada desses lugares até às terras cristãs europeias, especialmente a França e a Alemanha.

O movimento científico que veio com o advento do Islã na Andaluzia, com o desabrochar dos talentos do povo, e educado a vários cientistas como Ibn Rushid, Ibn Arabi, Ibn Sayyid Ptolomeu, Hayan Bin Khalaf Qartabi, Abdul Hamid Bin Abdul Andaluzia entre outros. A biblioteca de Córdoba albergava quatrocentos mil livros, enquanto na mesma época, o número de livros das maiores bibliotecas da Europa não chegava  a uma centena.

O Islã na Andaluzia foi uma fonte de progresso, florescimento, formação de sistemas sociais e o progresso e desenvolvimento desta terra. Portanto, as cidades cresceram rapidamente em termos de amplitude, reservas gerais e assuntos de comunicação. Com o desenvolvimento de atividades econômicas em vários setores da indústria, a fiação e a tecelagem também tiveram um crescimento espetacular. A tecelagem de Granada tornou-se tão famosa que seus tecidos foram exportados para várias partes da Europa. O surgimento de tecidos de alta qualidade e uma variedade atraente nos mercados europeus resultou no fato de os cristãos estarem muito próximos dos das comunidades muçulmanas. O vidro soprado da Andaluzia Muçulmana também era muito famoso. Abbas Ibn Firnas, nascido em Córdoba no século IX, foi a primeira pessoa que obteve, entre outras grandes realizações, a fabricação de vidro a partir de minério e aperfeiçoar o caminho para cortar o cristal de rocha, o que permitiu a Andaluzia  ser dispensada de enviar o mineral para o Egito para a sua fabricação e passou a ser fabricado e escavado em terra andaluzes colocando esta região no topo da indústria do vidro. Ibn Firnas inventou um artefato para voar e inventou óculos e um termômetro clínico de mecanismo complexo. 

Ao transmitir a forma moderna de agricultura, os muçulmanos reformaram a vida rural desse território. Muhammad Ibin al-Awwam, conhecido como Ibn al'Awwam, estudou cerca de 600 espece de plantas em seu livro intitulado "Livro da Agricultura". O valor deste trabalho reside em suas novas ideias e novas descobertas sobre tipos de solo, fertilizantes, embalagens, doenças de plantas e sua qualidade de cuidado, a maneira de armazenar frutas, especialmente o método de conservação.

Além disso, os europeus se beneficiaram muito no desenvolvimento de técnicas agrícolas e pecuárias, com base nas iniciativas da Andaluzia Muçulmana, de modo que plantas como o linho, o cânhamo e o açafrão, entre outros, foram cultivadas pela primeira vez nesta região e se espalhou por toda a Europa. O desenvolvimento da agricultura influenciou o comércio e os portos de Málaga e Almería tornaram-se os centros de produtos comerciais. Os produtos fabricados na Espanha foram exportados para outras partes da Europa e até encontrados  em  bazares de Meca, Bagdá e Damasco.

A existência de grandes monumentos na Andaluzia também revelou o poder, delicadeza e iniciativa dos muçulmanos. Os enormes pilares, arcos apoiados, minaretes, cúpulas e decorações de gesso representavam a arte da arquitetura muçulmana na Andaluzia. A Grande Mesquita da comunidade de Córdoba é uma das grandes obras desta época. É claro que parte desse lugar religioso foi destruída depois que os muçulmanos foram derrotados pelos cristãos na Andaluzia e este templo islâmico se transformou a Grande Igreja, mas uma grande parte dela permaneceu quase no final do século IX.

O pesquisador alemão Sigrid Hunke em seu livro escreve: "A Espanha evidencia a plena realização e o auge da arte islâmica. Se o crescimento no mundo existisse, se materializava na Andaluzia." O crescimento mais rico e o mais alto florescimento sucederam em um só lugar que ele não tinha uma notável civilização nativa". Além disso, detalha: "Em Córdoba havia uma grande catedral, porque os cristãos foram autorizados a reconstruí-la, enquanto os conquistadores muçulmanos construíram simples mesquitas em torno da cidade." Depois que a população da cidade de Córdoba cresceu, Ele precisava de uma grande mesquita congregacional (Jame) na cidade, que também era o centro do governo do reino, e o então governador Abdul Rahman comprou a igreja dos cristãos e a converteu em uma grande mesquita”.

O que foi dito até agora é uma pequena parte do florescimento e a propagação da grande civilização islâmica no continente europeu. Mas o importante é que a Andaluzia islâmica, com toda a sua magnificência e magnanimidade, depois de oitocentos anos, desmoronou completamente porque promoveu a corrupção e o descontentamento entre os muçulmanos. Esta queda do Islã em um país europeu contém muitas lições para os muçulmanos hoje. O falecido aiatolá Morteza Motahari, o grande pensador e sábio da história persa contemporânea, diz: "A história humana mostra que sempre que os poderes dominantes querem dominar uma sociedade e explorá-la, tentam prejudicar e corromper o espírito comunitário e, para esse fim, facilitam a luxúria das pessoas, o exemplo icônico desse método feio, o desastre que aconteceu aos muçulmanos na Espanha islâmica. Os cristãos que retiraram os muçulmanos da Espanha aproveitaram-se dessa mesma maneira. ... e assim foram capazes de eliminar a determinação, força, coragem, fé e a vontade dos muçulmanos e transformá-los em homens fracos, lascivos, enólogos e mulherengos, seguramente não devia difícil vencer esse tipo de gente”, alertou o Motahari.

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