Parlamento Europeu insta Birmânia a pôr fim à violência contra rohingya
(last modified Thu, 14 Sep 2017 13:22:57 GMT )
Set. 14, 2017 13:22 UTC
  • Parlamento Europeu insta Birmânia a pôr fim à violência contra rohingya

Parlamento Europeu instou hoje a Birmânia a "parar imediatamente" a violência contra os rohingya, numa altura em que 400 mil pessoas daquela minoria já fugiram para o vizinho Bangladesh.

Numa resolução hoje adotada, os eurodeputados instam Myanmar (antiga Birmânia) a "parar imediatamente com as mortes, perseguições e violações de pessoas rohingya" e que ponham fim à queima das suas casas.

Pediram também que as organizações humanitárias tenham acesso imediato à zona do conflito e aos refugiados.

Num apelo dirigido à líder de facto do país, a Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, os eurodeputados pedem-lhe que "condene inequivocamente todos os incitamentos ao ódio racial e religioso e que combata a "discriminação e hostilidade social".

Recordaram que Suu Kyi recebeu em 1990 o prémio Sakharov, atribuído pelo Parlamento Europeu, pela defesa dos direitos humanos, minorias e do respeito pela lei internacional.

A resolução surge no dia em que o Fundo das Nações Unidas para a infância (UNICEF) estimou em 400.000 o número de rohingyas que já fugiram da violência na Birmânia em direção ao Bangladesh, alertando que enfrenta a "tarefa monumental" de proteger centenas de milhares de crianças entre os refugiados.

A violência no oeste da Birmânia escalou a 25 de agosto, após uma ofensiva militar lançada na sequência do ataque, nesse dia, contra três dezenas de postos da polícia efetuado pela rebelião, o Exército de Salvação do Estado rohingya (Arakan Rohingya Salvation Army, ARSA), que defende os direitos daquela minoria muçulmana.

O ARSA declarou, no sábado, um cessar-fogo com a duração de um mês para permitir a entrada de ajuda humanitária, algo que foi rejeitado pelo Governo birmanês.

Segundo uma estimativa das Nações Unidas, divulgada anteriormente, mais de mil de pessoas da minoria muçulmana podem ter morrido nessa vaga de violência no estado de Rakhine, um número que é duas vezes superior ao das estimativas birmanesas.

O Conselho de Segurança da ONU pediu na quarta-feira "medidas imediatas" para acabar com a violência contra os 'rohingya', expressando "profunda preocupação com a situação atual" na Birmânia.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que os "crimes contra a humanidade" que sofrem os 'rohingya' na Birmânia podem ser considerados limpeza étnica, em linha com o Alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos do Homem que, na segunda-feira, declarou que a forma como a Birmânia trata a minoria muçulmana aparenta "um exemplo clássico" disso mesmo.

"A Birmânia tem recusado o acesso dos inspetores [da ONU] especializados em direitos humanos. A avaliação atualizada da situação não pode ser integralmente realizada, mas a situação parece ser um exemplo clássico de limpeza étnica", disse Zeid Ra'ad Al Hussein na abertura da 36.ª sessão do Conselho dos Direitos do Homem das Nações Unidas, em Genebra.

A Nobel da Paz e líder de facto da Birmânia, Aung San Suu Kyi, tem sido duramente criticada por defender a atuação do exército em relação aos 'rohingya' por múltiplas personalidades, entre as quais a paquistanesa Malala Yousafzai e o sul-africano Desmond Tutu, também laureados com o Nobel da Paz, havendo mesmo uma petição, assinada por mais de 350 mil pessoas de todo o mundo, a pedir ao comité norueguês que lhe retire o prémio.

A Birmânia, onde mais de 90% da população é budista, não reconhece cidadania aos rohingya, uma minoria apátrida considerada pelas Nações Unidas como uma das mais perseguidas do planeta.

Mais de um milhão de rohingya vive em Rakhine, onde sofrem crescente discriminação desde o início da violência sectária em 2012, que causou pelo menos 160 mortos e deixou aproximadamente 120 mil pessoas confinadas a 67 campos de deslocados.

Apesar de muitos viverem no país há gerações, não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas, aos hospitais e o recrudescimento do nacionalismo budista nos últimos anos levou a uma crescente hostilidade contra eles, com confrontos por vezes mortíferos.

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