ONG acusam Birmânia de genocídio e de abusos sexuais contra rohingya
A organização não-governamental Fortify Rights acusa a Birmânia de perpetrar um "genocídio" contra os rohingya, enquanto um número incalculável de mulheres e crianças daquela minoria muçulmana foram violadas, segundo a Human Rights Watch.
Um documento de 30 páginas, publicado na quarta-feira pela ONG local Fortify Rights e pelo Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, garante que "as forças de segurança birmanesas e civis cometeram crimes contra a Humanidade e procederam a uma campanha de limpeza étnica".
"Provas de que estes atos representam um genocídio contra a população rohingya não param de crescer", diz o relatório, dando conta de vítimas abatidas ou queimadas vivas.
Os autores entrevistaram mais de 200 pessoas (sobreviventes, testemunhas e trabalhadores humanitários) para documentar duas vagas de ataques levados a cabo pelas forças birmanesas contra a minoria rohingya entre 09 de outubro e dezembro de 2016, e a partir do passado dia 25 de agosto.
As operações militares desencadeadas no final de agosto levaram mais de 600 mil membros daquela minoria muçulmana a fugir da Birmânia com destino ao Bangladesh.
O governo birmanês assegura que a violência foi desencadeada por "terroristas" rohingya, mas o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos classificou a operação militar como "limpeza étnica".
Outro relatório da organização Human Rights Watch (HRW), publicado hoje, aponta para inúmeras violações sexuais cometidas contra mulheres e crianças rohingya e outras atrocidades passíveis de serem consideradas como crimes contra a Humanidade.
O documento, também elaborado com base em entrevistas com vítimas, organizações humanitárias e responsáveis pelo setor da saúde do Bangladesh, refere ainda inúmeras violações coletivas.
"A violação foi uma ferramenta importante e devastadora durante uma campanha de limpeza étnica do exército birmanês contra os rohingya", denunciou Skye Wheeler, autora do relatório.
"Os atos de violência bárbaros do exército birmanês deixaram inúmeras mulheres e meninas feridas e traumatizadas", sublinhou a investigadora da HRW.
Vinte e oito vítimas de 29 interrogadas afirmaram ter sido violadas por pelo menos dois militares. Oito mulheres ou meninas reportaram ter sido violadas por pelo menos cinco soldados. Mulheres descreveram ainda assassínios de filhos, maridos ou pais que precederam as violações de que foram alvo.
Seis casos envolvem violações coletivas de grupos de mulheres, segundo a HRW.
A ONG indicou ter interrogado 52 mulheres ou meninas procedentes de 19 aldeias situadas no estado de Rakhine, oeste da Birmânia, epicentro da crise.