Ex-conselheiro de Trump cria fundação para minar União Europeia
Em Bruxelas, grupo quer fortalecer populistas de direita para eleição de eurodeputados em 2019
LONDRES — Ex-estrategista político do presidente Donald Trump, o ultraconservador Steve Bannon e um dos seus associados criaram uma organização política com base em Bruxelas para minar, e em última análise paralisar, a União Europeia (UE). Em entrevista, Bannon e Raheem Kassam, ex-assessor-chefe de Nigel Farage — líder da campanha eurocética no Reino Unido, que agora já serve como aliado de Bannon — disseram que o grupo, conhecido como O Movimento, já está operando e contratando.
— O Movimento será a nossa câmara de compensação para o movimento populista e nacionalista na Europa. Estamos concentrando a atenção em ajudar indivíduos ou grupos preocupados com questões de soberania, controle de fronteiras, empregos, entre outras coisas — disse Kassam. — Decidimos nos reunir em Bruxelas porque é o coração da União Europeia, a força mais perniciosa contra a democracia dos Estados nacionais no Ocidente hoje. A organização já é uma fundação estruturada com um orçamento anual significativo e nós começamos a montar a equipe.
Bannon, que durante uma visita a Londres na semana passada esteve com Farage e Louis Aliot, associado próximo da líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen, descreveu a organização como um projeto populista destinado a disparar uma "mudança de placas tectônicas" na Europa. Segundo ele, o plano é usar o novo movimento para garantir um grande comparecimento de eleitores nacionalistas e populistas em todos os países-membros da UE na votação que escolherá novos membros do Parlamento Europeu, em 2019.
— As eleições parlamentares europeias do ano que vem serão um grande teste tanto para os eurocéticos quanto para os reformistas, e o Movimento é onde as duas causas se encaixam — disse Kassam. — O establishment político trabalhou com a ajuda de inúmeras ONGs por décadas, uma mão lavando a outra. Nós sentimos que já era hora de haver uma organização do lado das pessoas comuns, em vez dos interesses de lobby de grandes empresas na Europa.
A participação eleitoral nas eleições do Parlamento Europeu é historicamente baixa, e Bannon disse que ele e sua organização esperam mobilizar grupos locais anti-UE para eleger um grupo suficientemente grande de eurodeputados para atrapalhar e até fechar o Parlamento e a Comissão Europeia. Questionado sobre os planos de Bannon na segunda-feira, o principal porta-voz da Comissão disse a repórteres que o Executivo da UE estava ciente deles, mas se recusou fazer comentários.
Altos funcionários da UE se preparando para a eleição de 2019 reconhecem que os partidos hostis à União poderiam se sair bem na votação, mas poucos esperam que eles tenham assentos suficientes para perturbar o funcionamento das instituições. O Parlamento, por si só, é o mais fraco dos três principais órgãos políticos de Bruxelas, depois do Conselho dos Estados-Membros e da Comissão Europeia. Não pode propor legislação e precisa de maioria para bloquear leis e orçamentos. Grupos de extrema-direita e eurocéticos controlam cerca de 100 dos 750 assentos da Casa.
Com a saída britânica da UE em março, Farage e outros 18 membros do Partido da Independência do Reino Unido (Ukip) perderão seus assentos, no que será uma câmara de 705 lugares.Independentemente dos resultados eleitorais da UE, novos acordos para formar grupos de partidos transnacionais no Parlamento após a votação também serão fundamentais para a força de qualquer bloco eurocético.
Alguns especialistas questionam até que ponto Bannon e seus associados poderão unir os extensos grupos parlamentares europeus de extrema-direita. Após as eleições de 2014, os esforços para unir esta bancada falharam, deixando Farage e a francesa Marine Le Pen liderando grupos rivais.
O projeto da União Europeia remonta ao período pós-Segunda Guerra Mundial, tendo sido criada como forma de promover a cooperação econômica e restringir as rivalidades nacionais. Hoje é o maior bloco econômico do mundo e, nas últimas décadas, expandiu seus poderes políticos. Seus princípios estabelecem que os objetivos e valores do bloco são a promoção da paz e a oferta de liberdade, segurança e Justiça sem fronteiras internas entre Estados-membros. Seus defensores argumentam que protege os interesses europeus frente a potências globais como a China e os Estados Unidos e também frente a a empresas multinacionais que buscam pontos de apoio monopolistas.