Out. 26, 2016 10:46 UTC
  • O caminho de Karbala a Sham (a Caravana dos prisioneiros da Família do Imã Hussein)-2

Prezados leitores, como foi mencionado no texto anterior, as famílias do grupo do Imã Hussein (S.A) foram feitas como prisioneiras, logo após o massacre de Karbala e todas as pessoas foram algemadas e carregadas sobre os camelos para serem levadas a Kufa.

Após o discurso de Zainab al-Kubra , no qual responsabili­zou o povo de Kufa pelo martírio do Imam al-Hussein (A.S.), o Imam Ali ibnol Hussein (S.A) disse a ela: “Chega minha tia, já é o suficiente. Pois graças a Deus tu és uma sábia que jamais precisou ser ensinada, e uma pensadora que jamais precisou de alguém para ajudá-la.”

Depois do discurso de Zainab as pessoas ficaram caladas e chocadas, e não paravam de chorar. Zainab al-Kubra abalou os sentimentos do povo de Kufa e demosntrou com total clareza o tamanho do crime que eles cometeram. Ela transformou aquela multidão, que foi às ruas para assistir a vitória do exército Omíada contra um grupo pequeno de rebeles, em um grupo totalmente simpático à sua causa, a causa do Imã Hussein (S.A).

Depois dela, Fátima, a filha do Imã Hussein discursou:

 

(...) Ó Deus, sabeis que eu falo a verdade e não digo nada além do que não esteja de acordo com os ensinamentos de Ali, filho de Abu Talib, que foi assassi­nado em sua casa. Seu filho foi assassinado ontem. Ele foi morto ontem, retornou para seu Senhor sem nenhuma mácula. Ó Deus, lhe elegestes para o Islã quando ainda era criança e ele auxiliou o Profeta quando jovem. Ó povo de Kufa, povo traidor, falso e arrogante, nós somos da casa do Profeta, Deus fez isso como meio de provar a nós e a vós. Deus honrou-nos com Seu Profeta Mohammad. Vós nos acusais de mentiro­sos e infiéis. Vós pilhastes nossos bens como se fossemos filhos de Turk ou Kabul. Vossas espadas derramam nosso sangue, sangue da casa do Profeta. Pensais que sois astutos, porém Deus é mais astuto do que vós! Deus nos envia o melhor. Deus diz (no Alcorão): “Não desespereis, pelos (prazeres) que vos foram omitidos, nem nos exulteis por aquilo com que vos agraciou, porque Deus não aprecia arrogante e jactancioso algum. Pobre de vós! Espereis pela punição e maldição de Deus. Tendes os co­rações empedernecidos e o Demônio vos fez cativos”.

O discurso fez efeito profundo no povo que o ouviu. Os corações ficaram tristes e os olhos choravam com estas palavras, todos se culpavam e diziam: “Chega, ó filha dos puros homens. Tu queimaste os nossos corações e incen­diaste as nossas gargantas, deixando nossos peitos cheios de brasa.” Então ela deixou de falar e largou o povo naquela situação de humilhação, tristeza, derrota e arrependimento frente a traição e o crime que cometeram com o Imam al-Hussein (A.S.).

Neste momento, a neta do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.), Om Kothum[1], pediu à multidão que se calassem, louvou a Deus e o agradeceu, e disse:

“Ó povo de Kufa, seus homens nos mataram e suas mulheres choram por nós. O julgamento entre nós só poderá ser feito no Dia do Juízo Final. Ó povo de Kufa, que a ruína caia sobre vocês, porque traíram Hussein e o mataram. E roubaram suas riquezas. E aprisionaram suas mulheres humilhando-as. Que a maldição caia sobre vocês. Vocês sabem que crime e tragédia cometeram? E que peso colocaram sobre suas costas? E que sangue deramaram? E quais filhas e mulheres ofenderam? E que crianças humilharam? E que riquezas saquearam? Vocês mataram os melhores homens depois do profeta, e assim, vocês excluíram a piedade dos vossos corações. Em verdade, o partido de Deus é o vitorioso e o partido de Satã é o derrotado.”

Os narradores relatam que o povo de Kufa chorou naquele dia como jamais visto na história.

Logo em seguida o Imã Ali ibnol Hussein (A.S.), o filho doente do Imã Hussein louvou a Deus e discursou:

“Ó povo! Eu sou Ali ibnol Hussein, filho de Ali ibn abi Taleb. Eu sou filho daquele homem justo de quem saquearam todos seus pertences e aprisionaram sua família. Eu sou filho daquele homem que foi assassinado às margens do rio Eufrates, sedento, sem que tivesse derramado sangue ou tivesse culpa alguma. Ó, povo! Juro por Deus! Por acaso não fostes Vós que através de suas cartas, convidastes o meu pai para vir a Kufa e logo o matastes? Ó povo, com que cara vão se apresentar diante de Mohammad (P.E.C.E) no Dia do Juízo Final? E que o respondereis quando ele lhes dizer: “Vocês mataram minha família e não me respeitaram. Vocês não são de minha nação”. Que Deus tenha piedade daquele que age conforme meu conselho, que salvaguarda meu legado com relação a Deus, Seu Mensageiro e seus Ahlul Bait, pois temos no Mensageiro de Deus o melhor dos exemplos a ser seguido.

Os ouvintes disseram: “Ó filho do Mensageiro de Deus, escutamos e obedecemos, e seremos fiéis ao que nos confia. Não iremos dar as costas a vós, nem o desobedeceremos; ordene-nos, que Deus tenha misericórdia de vós, lutaremos quando lutardes e faremos paz quan­do fizerdes; dissociamo-nos daqueles que vos oprimiram e agiram injustamente contra vós”.

Mas o Imã respondeu: “Isto está além da capacidade de vocês, povo traidor e conspirador! Vocês estão distantes do que almejam. Querem vir a mim como vieram a meu pai? Pelo Senhor daqueles que ascendem e descendem que a ferida ainda está aberta. Meu pai foi morto ontem, assim como seus familiares e a perda infligida sobre o Mensageiro de Deus, meu pai e minha família ainda estão por ser es­quecidos. Por Deus que a dor permanece em meu peito e a amargura na minha garganta. Meu peito está completamente sufocado.”

A caravana dos prisoneiros dos Ahlul Bait  seguiu ao palácio do governante em Kufa, onde Ubaydllah ibn Ziyad permanecia. A partir daqui iremos mencionar alguns dos fatos ocorridos no palácio.

 

Continua ...

 

[1] -

Om Kolthum, neta do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.), filha do Imam Ali ibn abi Taleb e Fá­tima Azzahra (A.S.), e irmã dos Imames al-Hassan e al-Hussein (A.S.). Nasceu em Medina no ano 6 Hejerita e acompanhou o Imam al-Hussein (A.S.) desde a sua saída de Medina até o seu martírio em Karbala.

 

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