Violação dos Direitos Humanos no Ocidente, da ilusão à realidade (8-2018).
Pars Today - Este programa aborda a questão dos ataques e tiroteios nas escolas dos EUA e do poder dos lobbies de armas nos EUA.
Nos últimos anos, houve vários tiroteios em escolas nos Estados Unidos, entre os quais o mais grave ocorreu no sábado, 14 de dezembro de 2012, na cidade de Newtown, no estado do Kentucky. Nesse incidente, 26 pessoas da Escola Primária Sindy Hooker foram assassinadas, incluindo 20 estudantes e seis funcionários. Em outro incidente semelhante, em um tiroteio na Flórida, uma estudante de 19 anos expulsa de um colégio matou 17 pessoas e feriu uma dúzia de estudantes.
O recente ataque armado na escola secundaria Marjorie Stoneman Douglas na cidade de Parkland, no estado da Flórida, não foi um incidente raro nos Estados Unidos. Segundo os relatórios, este é o décimo oitavo tiroteio em um ambiente educacional neste país desde o início de janeiro. Conforme os dados oficiais, a cada seis horas se tem registrado um tiroteio em instituições educacionais nos Estados Unidos. Parkland, localizado a oitenta milhas a norte de Miami, juntou-se à lista de 290 escolas dos EUA, onde houve um incidente com armas desde 2013.
Apesar dos sucessivos tiroteios nos diferentes Estados do país norte-americano com saldos de assassinatos de civis inocentes, as autoridades americanas não proibiram a liberdade de carregar armas por causa da enorme influência e poder dos lobbies de armas. A Associação Nacional do Rifle Americano (NRA), é o maior lobby das armas nos Estados Unidos fundado em 1871, é uma organização norte-americana sem fins lucrativos que lista, como seus objetivos, a proteção da segunda emenda da Constituição dos Estados Unidos da América e a promoção dos direitos dos proprietários de armas de fogo, a proteção da caça e da auto-defesa nos Estados Unidos. Foi estabelecida em 1871 em Nova Iorque. Com base em sua própria informação, este grupo tem cerca de cinco milhões de membros, entre eles, atores proeminentes e políticos, especialmente republicanos. Mais de 100 mil instrutores a cada ano ensinam um milhão de portadores de armas a usar esses dispositivos letais.
A Associação Nacional de Rifle, nos primeiros anos de sua fundação, não foi tão influente, mas na década de 1970, após a adoção da Lei Central de Controle de Armas, este grupo tornou-se extremista. Assim, eliminou as pessoas com tendências moderadas de posições-chave e incluiu cláusulas legislativas e reformas em sua agenda. Segundo a Associação Nacional de Rifle, todos os cidadãos dos EUA têm o direito de possuir limitadamente armas. Desde então, esta associação estabeleceu-se como lobby e dirigiu todos os seus esforços para impedir a reforma do sistema de aplicação da lei americana de armas. Os líderes deste grupo de pressão consideram que o perigo não está nas armas, mas nas pessoas que as utilizam.
Como dissemos, a NRA é um dos lobbies mais fortes dos Estados Unidos. O foco deste grupo de advocacia é sobre política, especialmente em republicanos. Os ativistas estão implantando esforços nos Estados Unidos para restringir as leis de porte e livre fabricação de armas, mas os grupos de pressão impedem esses esforços e trabalham para prejudicá-los. Uma estratégia do lobby das armas para influenciar as leis a este respeito é pagar auxílios aos políticos e alocar fundos para campanhas eleitorais. Segundo os relatórios, nas campanhas eleitorais da direita em 2016, a ANR gastou mais de US $ 50 milhões, dos quais US $ 30 milhões foram para o vencedor dessas eleições, ou seja, o republicano Donald Trump.
Apesar de toda a controvérsia que a Associação Nacional do Rifle (NRA), o lobby das armas nos Estados Unidos, provoca os americanos das mais diversas tendências políticas a acham quase inatacável. A NRA e seus cinco milhões de membros são clientes valorizados por grandes empresas dos EUA. Mas depois do último tiroteio na escola Marjory Stoneman Douglas, na Flórida, em 14 de fevereiro, a opinião pública começou a mudar, não só na discussão política, como também no meio empresarial.
A reação das grandes empresas começou uma semana após o tiroteio. Em 22 de fevereiro, o First National Bank de Omaha disse que por causa da “reação dos clientes” não iria renovar a parceria com a NRA para oferecer cartões de crédito com a marca da associação.
Ativistas e alunos da escola Marjory Stoneman Douglas iniciaram a campanha #BoycottNRA no Twitter. Poucos dias depois, diversas empresas encerraram seus programas de descontos para membros da NRA, entre elas as companhias aéreas Delta e United; a companhia de seguros MetLife; a empresa de software Symantec; e as três maiores locadoras de automóveis do país, Avis Budget Group, Hertz e Enterprise Holdings.
A NRA Carry Guard, uma apólice de seguro destinada a cobrir os custos judiciais de membros da NRA em casos de tiroteios, apelidada de “seguro de homicídio” pelos críticos, foi cancelada pela seguradora Chubb. Em 28 de fevereiro, a cadeia varejista Dick’s Sporting Goods anunciou a interrupção das vendas de fuzis semiautomáticos e o aumento da idade mínima para a compra de armas de 18 para 21 anos, com a justificativa que “pensamentos e orações não são suficientes para conter a violência armada”.
No mesmo dia, a Walmart também comunicou que não mais venderia armas de fogo para menores de 21 anos. Uma briga contra essas empresas já começou a ser organizada. Os conservadores e os defensores do direito de porte de armas juraram boicotá-las. Os parlamentares republicanos do estado da Geórgia disseram que não aprovariam o corte de impostos para os combustíveis de aviões, que beneficiaria a Delta, se a companhia aérea não renovasse o programa de descontos para os membros da NRA. As empresas que optaram por uma posição neutra também estão sendo pressionadas pelos ativistas.
Apesar da declaração que “se opunha ao direito de posse de fuzis semiautomáticos por civis”, a FedEx foi duramente criticada por manter os descontos nas remessas de encomendas dos membros da NRA.
A Amazon e a Apple também enfrentaram críticas por continuar a oferecer aos seus usuários a programação da NRA TV. Os deputados democráticos em Nova Jersey querem apresentar um projeto de lei para impedir que os fundos de pensão do estado invistam nos fabricantes de armas.
BlackRock e State Street, dois dos principais gestores de ativos do mundo, disseram que iriam conversar com os clientes produtores de armas a respeito de suas carteiras de investimentos. A reação de empresas importantes dos EUA pode influenciar a discussão sobre o controle de armas? Ao acusar as empresas de fazer “uma exibição vergonhosa de covardia política e cívica”, a NRA afirmou que essas companhias, ao longo do tempo, seriam substituídas por outras que se orgulhariam de ter entre seus clientes membros da NRA. Mas com a opinião pública dominada pelas grandes corporações será difícil que a NRA retome seu poder de pressão sobre políticos, órgãos públicos e a iniciativa privada.
Um dos problemas mais notórios é a venda de armas pela polícia dos Estados Unidos. De acordo com a agência de notícias Associated Press, a polícia em Washington e outros estados norte-americanos vendem as armas que confiscam durante suas investigações criminais. Essas armas são de diversos tipos e calibres, entre eles tão letais como o rifle AR-15, uma arma semiautomática que é vendida nas lojas, mesmo que sua venda seja proibida. As investigações mostram que os departamentos policiais em todo Washington desde 2010 venderam milhares de armas AR-15 e AK47 apreendidas. O autor do tiroteio recente na escola da Flórida usou uma arma de artilharia semiautomática AR-15. Este tipo de arma é um exemplo leve de armas militares feitas para uso civil.
As leis da maioria dos estados nos Estados Unidos permitem que os policiais decidam sobre a venda / ou disposição de armas de fogo apreendidas, no entanto, há uma tendência crescente nos últimos anos para aprovar leis que permita a venda de todas as armas apreendidas. Arizona, Dakota do Norte e Geórgia estão entre esses estados. Os patrocinadores dessas leis acreditam que a venda dessas armas apreendidas poderia ser uma fonte de receita para a polícia, no entanto, se essa lei não fosse implementada, os americanos poderiam facilmente comprar armas fora da polícia. A maioria das armas vendidas pela polícia nos Estados Unidos desde 2010 foram usadas em novos crimes.
Os interesses dos políticos dos Estados Unidos ameaçaram a vida e a segurança dos cidadãos deste país. Viver em segurança é o direito mais fundamental das pessoas, e os governos são obrigados a proteger os direitos dos seus cidadãos. Devido à atitude passiva da administração dos EUA, cidadãos, especialmente estudantes, decidiram agir na luta contra a liberdade de portar armas. Na verdade, os estudantes de Parkland, no sul da Flórida, saíram às ruas no sábado (17 de fevereiro) para protestar contra a permissividade sobre as armas e anunciaram que iriam no dia 24 de março para Washington, a capital dos EUA para realizar um protesto sob o lema "Marcha para nossas vidas" e exigir que as autoridades priorizassem a família e as crianças. Escolas de outros estados dos EUA também estão fazendo campanha para instar os legisladores a revisarem leis sobre saúde mental e armas a fim de fazer tornar mais difícil sua compra para pessoas com antecedentes psiquiátricos.
Aparentemente, os benefícios económicos da venda de armas nos Estados Unidos, não apenas se manifesta nas fronteiras deste país, como também no exterior, levaram à perda de vidas e a violações dos direitos humanos. As armas leves na fronteira dos EUA cobraram a vida dos cidadãos, muitas deles estudantes e crianças. Além disso, tem registrado o uso de armas mais perigosas, como bombas de fragmentação, armas químicas e microbiológicas, que põem em perigo a vida das gerações futuras fora dos Estados Unidos. Esta situação revela que a postura das autoridades dos EUA em matéria de direitos humanos, em particular o direito à vida, se baseia em que os benefícios econômicos estão sobrepondo aos princípios humanos e morais.
Conforme o especialista do programa, mais uma vez, um massacre ocorreu em uma escola estadual na Flórida, que, como outros incidentes anteriores, seria esquecido, até que um novo massacre ocorra e o presidente dos Estados Unidos expressa sua solidariedade aos sobreviventes e parentes das vítimas com um rosto muito triste diante das câmeras de televisão. Mais de 23 mil pessoas morrem anualmente nos Estados Unidos por armas de fogo, mas ninguém se atreve a restringir a venda de armas neste país. O recorde de vendas de armas nos Estados Unidos foi registrado em 2016 com 11 milhões de armas vendidas. A Associação Nacional de Rifle teria infiltrado no conselho do governo dos EUA para evitar qualquer restrição à venda de armas. O fácil acesso às armas tornou todos, inclusive alunos estudantes, tiver uma arma de fogo. A sociedade americana enfrenta variedades lacunas - econômicas raciais e religiosas – desde a violência de Hollywood que se promove através de seus filmes com cenas que se tornam em realidades nas escolas e nas universidades. A experiência mostrou que, em face de qualquer assassinato, os americanos recorreram a se armar. Esta é a imagem do país mais liberal do mundo que busca expandir seus valores para todos os cantos do planeta. Os EUA possuem um sistema eleitoral e democrático, mas, na prática, grupos de pressão influenciam o processo de tomada de decisão desde o Congresso a Casa Branca.